Dos muitos sentimentos que me acometem com frequência, a saudade é (quase que sem sombra de dúvidas) o mais dolorido e indecifrável deles. Saudade de momentos, lugares, pessoas... até de coisas que nem sei bem se aconteceram fora do meu mundo sinto saudade!
Nos últimos dias, essa nostalgia, esse saudosismo, essa miscelânia de sensações têm me acompanhado cotidianamente. Daí, no meio de uma arrumação de textos e citações, encontro um belíssimo texto do Neruda que explícita tão lindamente essa faceta do ser humano e decido que PRE-CI-SO compartilhá-lo. Boa leitura! ;)
Saudade é solidão
Saudade é solidão acompanhada,
é quando um amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
é recusar um presente
que nos machuca,
é não ver um futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram pra trás,
é o gosto de morte
na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo
deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudade,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca
ter sofrido.
(Pablo Neruda)
domingo, 9 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Esses homens que não se dão ao respeito...
Tudo bem que está calor, mas tem que se dar ao respeito, homens! Por isso que o mundo está como está. Não existe mais moral!
Estava andando na rua agora pouco e, imagina, passou um cara na rua com a camisa com quatro botões desabotoados. Quatro! Um decotão que dava para ver tudo! Vai dizer que é calor? Pra mim isso é outra coisa. Coisa de homem que não se dá o respeito. Vadio! Não sabe como é o mundo?
Prendam os bodes que as cabritas estão soltas! Depois uma mulher chega, faz um gracinha, passa a mão, tenta alguma coisa... aí, vai reclamar! Mas tava provocando! Como sai de casa com um decote desses? Mostrando tudo! É para se aparecer! Se dar ao desfrute. Não me contive mesmo. Mexi. Meus instintos de fêmea, né, falam mais alto. É normal. "Gosssstoso! Fiu-fiu! ô lá em casa!" E se revidar, eu xingo, "mal comido". Mas, se der mole, eu vou pra cima. Tenho que provar que sou fêmea, pô. Reprodutora. Dou no couro. Não posso dispensar homem. A sociedade espera isso de mim. Fodona.
Deu mole, eu traço mesmo. E se não der, traço tbm. Estupro? Não, não é estupro. Ele que se insinuou. Com aquele decotão de quatro botões, tava querendo, certeza. Até bebeu pra ficar facinho. "Nóis" não amarela não. Crime? Que crime? Isso é instintivo nas fêmeas! A gente olha mesmo, mexe mesmo, pega mesmo. Se não quer, fica em casa. Se vista com decência. Se dê o valor, cara. Homem meu não anda na rua assim! Se andar, mereceu, né? Não deixo usar short, camisa com botão aberto. Que isso? Pras mulheres ficarem de olho? A gente sabe como é o mundo.
Quem tem que se dar o respeito é ele. As mina tem instinto, estão no direito delas. O que é meu, eu cuido. (Às vezes perco a cabeça, talz, bato, xingo, mas ele sabe que eu amo. Esse é meu jeito, poxa.) Sociedade matriarcal que objetifica os homens? Aff, que exagero. Isso é papo de hominista. A gente tá em pé de igualdade social. O que falta mesmo é esses homens aprender a se dar valor. Já viu como eles dançam? Ficam balançando seus órgãos, maior depravação. Aí depois aparece com filho e nem sabe quem é a mãe. Deu e a mina traçou, normal. Depois vira pai solteiro querendo dar golpe em mulher trouxa, pra criar óvulo de outra.
domingo, 11 de agosto de 2013
O nojo do gozo que não participei – sobre estupro e outras formas de machismo
Dentre as muitas coisas que tenho
lido, este texto, escrito pela Hannah Thuin, estudante de Direito da
Universidade de Brasília, me "representou" tanto e de tal forma que
não conseguiria recortá-lo ou modificá-lo de nenhuma forma. Segue, na íntegra.
A história que segue é suja,
densa – tão densa quanto o último respingo dela. A história que segue é
dantesca: retrato de um pesadelo acalorado pelo inferno. É uma história que
nada posso barganhar para esquecer; história que nada pude fazer para deter. É
uma história-memória sem cortes ou censuras – a linguagem é crua e dura.
Inadequada para quem com a verdade da realidade não pode ter. Não leia se este
último papel cabe em você.
Saía da aula. Tarde.
Estacionamento parcamente iluminado. Transeuntes inexistentes. Tudo era sombra
– à exceção da Lua cheia: seria ela a única a testemunhar.
Seiscentos metros; sessenta
passos: foi essa a distância percorrida antes que aquelas mãos segurassem firme
meu ombro. Segundos. Minha bolsa no chão. A chave do carro perdida na grama
próxima. Eu não conseguia gritar, mexer, fugir. Desespero. Enquanto uma mão
rasgava minha blusa, a outra expunha o pau duro para fora da calça. Quis
vomitar.
“Vadiazinha. Piranha. Vou te comer sua patricinha. Fica quietinha. Se abrir a boca, te mato.”
Sob o bafo dessas palavras,
despertei. Reagi, tentei escapar. A força dele era o dobro: eu quis ter voz
para morrer.
“Papai aqui vai te mostrar como se faz. Te foder toda. Te mostrar o que é um homem de verdade”.
Subjugou-me pela testosterona
dobrada: forçou-me os joelhos ao concreto; forçou-me a boca ao pau ereto.
Segurava-me pelos cabelos. Ia e voltava, com força, a cintura no meu rosto.
Aquele chicote estalando na minha garganta. Os pelos do escroto roçando nos
meus lábios.
Uma.
Duas.
Três.
Quatro.
Perdi as contas de quantas vezes sufoquei; de quantos tapas deferiu-me com aquelas mãos de monstro pelos desmaios que meu nojo ensaiou. Incansável. Só parou quando da minha voz saiu o vômito. Vômito que conheceu mais minha pele que o chão. Vômito que não interrompeu o animal; vômito que não o comoveu; vômito que não o impediu.
Uma.
Duas.
Três.
Quatro.
Perdi as contas de quantas vezes sufoquei; de quantos tapas deferiu-me com aquelas mãos de monstro pelos desmaios que meu nojo ensaiou. Incansável. Só parou quando da minha voz saiu o vômito. Vômito que conheceu mais minha pele que o chão. Vômito que não interrompeu o animal; vômito que não o comoveu; vômito que não o impediu.
“Sua porca. Escrota. Tá com nojinho? Agora vai ver o que é bom.”
Arrancou minha saia. Jogou-me ao
chão. Minhas bochechas esfoladas no asfalto. O corpo pesado daquele homem me
esmagando. Aquelas mesmas mãos monstruosas forçando caminho entre as minhas
pernas; aquele mesmo pau duro a me violar. Ao sangue do meu rosto arranhado, da
minha boca cortada, juntava-se o sangue do meu sexo machucado. Escorria a
resposta das minhas entranhas; traduzia em cor a dor que eu não conseguia
gritar. O bafo daquele homem estranho, sua respiração descontrolada aos pés do
meu ouvido. Aquela coisa asquerosa entrando e saindo de mim:
entrando
e
saindo;
entrando
e
saindo. Sob o meu pranto silencioso, o rosto desfigurado de tantas idas e vindas da pele naquele recorte duro de piche- o ritmo dos arranhões conduzidos pelo pau insaciável de um estranho. Além do choro, o sangue; além do sangue, o gozo. O gozo dele. Aquele sêmen todo a adoecer minhas partes; aquela porra a descer pelas minhas pernas: líquido branco, denso: morte.
Liberou seu peso sobre mim. Recolheu o pau murcho à braguilha fechada.
entrando
e
saindo;
entrando
e
saindo. Sob o meu pranto silencioso, o rosto desfigurado de tantas idas e vindas da pele naquele recorte duro de piche- o ritmo dos arranhões conduzidos pelo pau insaciável de um estranho. Além do choro, o sangue; além do sangue, o gozo. O gozo dele. Aquele sêmen todo a adoecer minhas partes; aquela porra a descer pelas minhas pernas: líquido branco, denso: morte.
Liberou seu peso sobre mim. Recolheu o pau murcho à braguilha fechada.
“A princesinha tá toda fodidinha. Já quer mais, né, putinha? Delícia.”
Dispensou um último tapa forte na
minha coxa – foi embora caminhando. Minhas mãos desceram à virilha; manchei-as
com aquela mistura de branco com vermelho: jamais unir-se-ão em rosa.
Não sei quanto tempo larguei-me ali. De pernas abertas. De roupa rasgada. De olhar perdido. Quando me encontraram, já era tarde. Tarde na hora do relógio, tarde na hora impossível de se evitar: ninguém mais poderia me salvar, minha vida acabara ali.
Dos procedimentos que se
seguiram- o IML, os infinitos exames, as tonalidades e prescrições de cada
caixa de remédio-, apenas participei do banho. Esfreguei minha pele com tanta
fúria, com tanto nojo, como se a carne daquele homem não fosse se desprender
nunca da minha – como se ele ainda estivesse ali. Não terminei enquanto outras
nuances minhas, além da dor, tornaram-se expostas. Aquela noite me tornou uma
pessoa quebrada: deixou a memória no corpo; usurpou a (c)alma.
Os únicos momentos em que eu
recobrava a vida, para logo perdê-la, afloravam ao longo do sono. O chão
áspero, o pau duro, o nojo, o sangue, o gozo dele escorrendo pelas minhas
pernas. Como se todo dia eu precisasse morrer um pouco mais. E morria.
Pesadelos sem rosto – assumiam um novo a cada abrir de olhos. Todos se
tornaram, assim, possíveis estupradores: o porteiro, os amigos, os vizinhos,
meus irmãos. Enxergava em todos eles a mesma repulsa. Ninguém escapava ao meu
medo; o medo não poupava sequer os Santos.
Em algum ponto, porém, estar
morta tornou-se insustentável. Não havia o que fazer quanto ao meu homicídio –
não acharam um nome a punir pelo estupro. A minha morte, contudo,
desenrolava-se em outra: mamãe. A culpa, tão injusta em escolher suas vítimas,
a atingiu, a adoeceu. Não foi por mim, portanto, que voltei – foi por ela. E,
ao voltar, percebi que não só por ela eu deveria renascer, mas por todas. Por
todas as mulheres. Por todas as mulheres que tiveram seus corpos violados e
suas almas furtadas, mutiladas, assassinadas.
Por todas as mulheres estupradas
ao percorrer o caminho entre a L2 e a UnB. Por todas as mulheres estupradas ao
pegar uma van de Copacabana para a Lapa. Por todas as mulheres estupradas após
serem intencionalmente drogadas por seus colegas de trabalho. Por todas as
mulheres enganadas por seus ídolos e, por eles, estupradas coletivamente. Por
todas as mulheres forçadas a transar com seus companheirxs- porque isso também
é estupro. Por todas as meninas abusadas por familiares ou pessoas próximas.
Por todas as mulheres e meninas que se calaram por medo, que não denunciaram,
que se sentiram culpadas porque assim, desde sempre, foram ensinadas pela sociedade.
Por todas as que não conseguiram carregar o peso dessa memória e encontraram,
no suicídio, a única possibilidade de redenção. Por todas as mulheres que não
renasceram; por todas as que sobreviveram; por todas as que, como eu, de alguma
maneira, hão de sobreviver (e renascer).
SOBRE AS
NUANCES DO MACHISMO
O estupro é um dos filhos
bastardos do machismo. Bastardo porque deste herda os traços, mas não o
reconhecimento. O machismo é a raiz podre que germina em solo Argiloso; é o
início do espinho que emerge na Terra Roxa; é o calvário que se instala no
Calcário. O machismo está em toda parte. Enraizado. Reproduzindo livremente
seus podres frutos e alimentando, com eles, tradições e poderes apodrecidos. O
machismo veste muitas cores, muitas modas, muitos nomes. O machismo é a nossa
crítica à saia curta e ao decote; o machismo é a nossa repulsa à puta e
concomitante glorificação do conceito menina-santa-songa-monga. O machismo é a
crucificação do aborto travestido de religião; é, também, a proibição da ordenação
da mulher. O machismo é árvore de muitos galhos.
O machismo não me deixa jogar
bola, porque futebol é coisa de homem; não me deixa conduzir um carro, porque
mulher no volante é barbeira; não me deixa ser a capa de um jornal de finanças,
sorridente e bem sucedida, porque esse papel milenarmente cabe, tão somente, ao
homem (branco). O machismo não deixa que eu me expresse, que eu marche pelos
meus direitos, que eu exponha meu corpo como eu quiser.
O machismo não deixa que eu
escolha minha foda, a minha companheira no lugar de companheiro – se quero ou
não ter filhos. O machismo não me deixa ser mãe solteira. O machismo não
deixa que ela ganhe mais que ele ou que ele cuide da casa e auxilie-a nas
responsabilidades domésticas. O machismo não deixa que a mulher seja o que é:
forte. Ele tenta o tempo todo submetê-la à obediência, à submissão, à
resignação.
O machismo, contudo, sabe ser
generoso – abre “exceções”. O machismo permite objetificar o corpo da mulher
para que seja essa a imagem impulsionadora das vendas de carros e de cervejas.
Permite ao marido ser convocado em propagandas toscas de rádio a bancar o
consumismo clichê feminino – resume a mulher ao crédito. Permite e reforça a
exigência das curvas sempre exatas, da roupa comportada, das unhas feitas, do
cabelo liso e escovado. Permite que o cavalheirismo seja visto como gentileza
dele e o sexo como obrigação servil dela. Permite que ele faça da infidelidade
um estilo de vida e do pênis um instrumento de reconhecimento e poder. O
machismo permite que a apologia ao estupro em uma recepção de vestibular seja
vista como um caso isolado de “dois babacas” dessintonizados com o curso e não
como um problema institucional que ultrapassa os muros da Universidade- o
espaço acadêmico hodiernamente (e infelizmente) ainda reproduz, sem a
necessária reflexão, os ecos e ensinamentos que vêm de antes, que vieram e vêm
lá de fora. O machismo permite que a hipocrisia se diga moral e, em um cuspe,
agrida as mulheres que marcham por um necessário despertar; permite, inclusive,
normatizar o estupro, assegurando, àquele líquido branco, a hospedagem no
útero, sem questionar a existência de um prévio aceite: se ela disse sim ou se
disse não, para o machismo, tanto faz.
Engana-se
quem pensa ser o machismo opressor apenas do feminino. Senhor feudal, pai, filho e herdeiro das tradições
e do conservadorismo, o machismo é poder corrupto e mecanismo de exclusão que
se pretende perpétuo. É em nome dele e por ele que se prega e legitima o homem
branco como “the choosed one” para dominar a tudo e a todos.
É em nome
dele e por ele que se mascara o fundamentalismo de democracia e a intolerância
de religião. É ele
quem dilata as nossas glotes e permite um indigesto Feliciano permanecer na
presidência da Comissão de Direitos Humanos. É ele que o impede o Ministério da
Saúde de veicular uma campanha em que afirma que prostituta também é gente e é
gente feliz. É ele quem veta um kit que prega o respeito e a compreensão da
sexualidade que escapa aos padrões normativos, mas permite e incentiva, com
recursos públicos, a distribuição de uma cartilha que, não contente em veicular
a homofobia, relativiza o estupro, personificando o gozo do estuprador em uma
vida a ser protegida. É ele que condena as rupturas, que agride àquela que se
insurge contra o sistema, que demoniza os seus símbolos.
É em nome dele e não de Deus que se pratica o racismo, a homofobia, o
feminicídio, a opressão de classes. É ele quem cerceia com normas, padrões e
pecados intransigentes o próprio existir dos sujeitos.
Que o senso comum, a homofobia, o
racismo, o feminicídio, a opressão de classes, a xenofobia, que todos esses
rostos do machismo se tornem, a cada dia mais, os verdadeiros outsiders. Sejam
eles os deslocados, os excluídos, os eliminados. Que a gente desperte os
sentidos e a vontade para entender e enfrentar o verdadeiro inimigo e seu
exército de formas, linguagens, poderes, pessoas. Que a nossa revolução comece em nós mas em nós não termine e não se
contenha; que se expanda, que invada a rua, o comércio; que barulhe os ouvidos
até que seja verdadeiramente escutada, sentida, pensada.
Há muito para fazer: há um tanto
de dureza e concreto para demolir. Os caminhos, contudo, estão aí, abertos. Há um incômodo com potência para ser
mudança. Há gente muito boa na rua pronta para o novo. Que a gente não
perca o embalo e nem a coragem e, se por ventura, faltar o norte, que a gente
tenha o gosto do nojo na memória: aquele líquido branco banhado de sangue e de
pranto – gozo egoísta, monstruoso.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
A atualidade de um Porto (não muito) Alegre, mas DE LUTA!
O poder está de
volta às ruas de Porto Alegre. E não falo aqui de poder militar,
policial ou quaisquer outras manifestações desse tipo. O poder popular, o
verdadeiro poder, está de volta às ruas de Porto Alegre.
Entenda o
caso. Não é atual a notícia de que as passagens do transporte coletivo da
capital gaúcha figuram entre as mais caras do país (antes do último aumento em
21 de março deste ano, o preço estava em R$2,85 perdendo o “posto” apenas para
São Paulo – onde com R$3,00 tu pode fazer até quatro viagens de ônibus). Porto
Alegre é uma capital de área territorial pequena (cerca de 500 mil km²) e seu
sistema de transporte coletivo não realiza grandes itinerários de forma a
corresponder a essa tarifa exorbitante.
Mas peraê! Isso não é
invenção maluca da minha cabeça! Vamos aos dados...
No final do
ano passado, o Ministério Público de Contas (MPC) apresentou uma medida
cautelar ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) de forma que este deveria rever
o cálculo das passagens. Ao final deste processo, o MPC lançou uma orientação
dizendo que o
valor da passagem deveria estar em R$2,60
– e, então, iniciou-se uma discussão se haveria redução dos valores e,
até, se esta seria, ou não, retroativa (como não há possibilidade de devolver o
valor pago a cada um dos passageiros, a retroatividade apresentava-se como uma
redução para além dos R$2,60 propostos). Para situar vocês, esta decisão teve
sua última instância no início de março.
Uma pequena
observação para
os que não são de Porto Alegre: o transporte coletivo daqui é um
completo lixo. Atrasos, superlotação e falta de segurança fazem parte do
cotidiano. Os pontos de ônibus estão completamente descuidados pela prefeitura.
As únicas obras que estão sendo feitas no sentido de “melhorar” o transporte é
a implantação dos corredores BRT (Bus Rapid Transit) – uma obra da Copa que tem
atrapalhado o trânsito muito mais que ajudado.
Pois bem, voltemos.
Ao fim desde mês (dia 21), o prefeito José Fortunatti (PDT), junto com a EPTC
(Empresa Pública de Transporte e Circulação), resolveu ignorar a orientação do
MPC e aumentou
a passagem. Aumentaram. De novo. O valor não chegou aos ridículos
R$3,30 que as empresas de ônibus estavam pedindo, mas para os (pouco menos)
absurdos R$3,05 (6,51% de aumento). Óbvio, como todo ano acontece, a “culpa” do
aumento caiu sobre as gratuidades, isenções, meias passagens, salários dos
rodoviários, etc, etc, etc. E muita gente caiu nessa.
Mas ainda há
esperança!
Não foram
todos que engoliram este aumento – muito pelo contrário! Antes dele ser
decretado, cinco atos já haviam sido realizados. Com o aumento, manifestações
populares eclodiram nas redes sociais. Um primeiro ato aconteceu na noite de
segunda feira (dia 25) quando os manifestantes fecharam a Avenida Ipiranga (uma
das maiores e mais movimentadas daqui) – cerca de 200 pessoas protestaram em
frente à PUC-RS e depois seguiram pela avenida, bloqueando o trânsito.
Na quarta
feira, dia 27, um novo ato em frente à prefeitura reuniu centenas de
manifestantes bradando sua contrariedade ao reajuste. Como (infelizmente) já é
de praxe aqui na capital, a Brigada Militar resolveu “lidar com os
manifestantes” e lançou bombas de efeito moral. Com isso houve revolta dos que
ali estavam e a violência aumentou: a prefeitura teve portas pichadas, vidros
quebrados e outras avarias patrimoniais. O secretário municipal de Governança, Cézar Busatto (PMDB),
teve sua roupa manchada por tinta lançada pelos manifestantes. Estes sofreram
a truculência da polícia. Uma manifestante foi detida e o ato só terminou
quando ela foi liberada.
Recua polícia, recua! É o Poder Popular
que está na rua!
Pois bem,
depois disso tivemos que aguentar o Lasier Martins (jornalista da afiliada da
Rede Globo no RS) falar mais de suas besteiras durante o noticiário local.
Chamou os manifestantes de bárbaros, animais. Disse que eles não tiveram
sensibilidade com a semana de aniversário de Porto Alegre (!!!) – como se o
prefeito tivesse pensado nos 241 anos completados no último dia 26 antes do
aumento – e que estes atos eram realizados por “figurinhas carimbadas” que
levam outros a depredar patrimônio e não trazem nenhum benefício à população.
Nas redes sociais, discussão e mais discussão, porém com a maior parte das
pessoas apoiando os populares e suas ações.
Hoje mais um
ato foi realizado. Mais de DEZ MIL pessoas foram contabilizadas. Para tristeza dos direitistas, nenhuma “depredação
do patrimônio” aconteceu. Ahhh, sim! Ia me esquecendo: na tarde de hoje o
prefeito reuniu-se com “representantes estudantis” para discutir o aumento das
passagens. Coincidentemente (só que não), o DCE da UFRGS não estava
representado nesta reunião. Os membros da UEE (União Estadual de Estudantes) –
entidade que não representa ninguém, é filiada à UNE e extorque os estudantes
anualmente pedindo valores absurdos para a confecção de carteiras de passe
escolar – disseram ter convidado o DCE (uma das principais entidades
organizadoras dos atos), mas não chegou nenhum convite! Conversas a portas fechadas
com entidades que têm claras ligações com o governo, não representam a
população, muito menos os estudantes, ô seu prefeito! Aprenda isso!
Porto Alegre
está nas ruas, nós não iremos parar até essa passagem baixar o preço. Até este
transporte ser digno. Até a população ser ouvida.
Se a passagem não baixar, Porto Alegre
vai PARAR!
Desculpem o tamanho do texto, estou empolgada!
Para quem tá em busca de maiores informações: googleia a
Zero Hora (jornal das organizações Globo) ou vai nesses links:
Sul 21 - protesto
Sul 21 - Reunião prefeitura
Sul 21 - protesto
Sul 21 - Reunião prefeitura
Sul 21 - Fortunati diz que o protesto é baderna
Sul 21 - Determinação TCE
Sul 21 - População concorda com os atos
Sul 21 - Determinação TCE
Sul 21 - População concorda com os atos
sábado, 9 de março de 2013
Dia Internacional da Mulher
E passou mais um 8 de
março, Dia Internacional da Mulher.
Estamos em 2013, mas, nas redes sociais, ainda prevaleceram postagens exaltando
a feminilidade, graciosidade e delicadeza das mulheres, ao parabenizá-las pelo
"seu dia". Será que estas são características das mulheres, no geral?
Aliás, será que o Dia Internacional das Mulheres serve para isso, parabenizar
as mulheres no geral?
Bem, voltemos à origem desta data.
Neste dia, do ano de 1857, as
operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a
fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia
para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um
terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se
declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas.
Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher
foram o estopim da Revolução russa de 1917. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário
juliano), a greve das operárias da indústria têxtil contra
a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país
na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que resultaram na Revolução
de Fevereiro. Leon Trotsky assim registrou o evento: “Em 23 de
fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam
planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as
operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas
para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de
massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia
das mulheres’ viria a
inaugurar a revolução”.
Após a Revolução de Outubro, a feminista bolchevique Alexandra
Kollontai persuadiu Lenin para torná-lo um dia oficial que, durante o período
soviético, permaneceu como celebração da “heroica
mulher trabalhadora”.
(tirei o texto da
wikipédia. Não há um consenso histórico sobre o primeiro parágrafo mas resolvi
transcrevê-lo pois é o que comumente nos é ensinado nas escolas)
Atualmente o 8 de março é uma grande mistura de dia das mães e dia
dos namorados; mais uma data comercial que acaba trazendo à tona esteriótipos opressores da nossa
sociedade. Mulheres ganham presentes dos seus pais, maridos e chefes. Rosas e
sapatos são vendidos aos montes. Mesmo assim, apesar da suposta valorização da
mulher, continuamos aprendendo que tem coisas que os homens podem fazer e que
nós não podemos. Continuamos ganhando menos no mercado de trabalho. Continuamos
com nossas jornadas duplas ou triplas. Continuamos sendo esteriotipadas.
Continuamos sendo chamadas de vadias por gostar de sexo. Continuamos sendo
espancadas e mortas, pelo simples fato de termos nascido mulheres.
Não posso concordar com essa lógica. Para mim, o dia 8 de março tem classe: Dia Internacional da mulher proletária, que luta, que
diariamente é oprimida pelo sistema, que sofre, que é explorada, que não
desiste – a HEROICA MULHER
TRABALHADORA.
Que o 8 de março seja uma data para repensarmos desde a educação
que damos às nossas crianças até a forma como agimos diariamente . Para
lembrarmos que a valorização da mulher não se dá pelo comprimento da sua roupa,
mas pela mudança de toda a sociedade. Para percebermos que as características
femininas estão, há muito, deturpadas pelo sistema. Para desejarmos que a
liberação sexual das mulheres pare de ser uma utopia e vire realidade.
Lembrarmos que as mulheres não se distinguem em "pra namorar" e
"pra transar". Compreendermos que a mulher possui direito absoluto sobre
seu corpo e somente a ela cabe decidir o que fazer com ele. Que mulheres podem
amar outras mulheres. Percebermos que a mídia nos aprisiona dentro de um padrão
de beleza a cada dia mais impossível. Que temos o direito de andar na rua, nos
ônibus, nos metrôs sem sermos assediadas. Entendermos que mulheres gostam de
sexo e merecem o prazer. Que somos diferentes, mas temos que lutar lado a lado.
Tanto mais podia ser dito, mas tentarei resumir e deixar claro:
não queremos flores dia 8 de março, queremos
DIGNIDADE e RESPEITO!
.
domingo, 27 de janeiro de 2013
sábado, 6 de outubro de 2012
Porto Alegre - só que não!
Venho contar a história
de uma Porto Alegre, que anda cada vez mais triste.
Os últimos dias têm sido de tumultos e violência na capital
gaúcha. Diversas
manifestações eclodem, pessoas têm saído às ruas para protestar pelos seus
direitos e a polícia “faz seu papel”: a mando do governo, de forma a preservar
a ordem vigente (leia-se: governo agindo como um fantoche para as grandes
potências econômicas e empresas multinacionais), age com total truculência
vitimando muitos que só estavam na hora errada, no lugar errado.
Privatização de locais
públicos é somente um dos inúmeros legados que a Copa de 2014 irá deixar para o
Brasil. Não que este processo tenha começado com a Copa, mas, certamente,
acentuou-se com ela. Também podemos citar as remoções de famílias, os desvios
do dinheiro público, etc.
Na noite de quarta feira, o cantor
Tom Zé apresentou-se no Araújo Vianna. Em um espaço de forte apelo
histórico-cultural porto-alegrense, a noite terminou com seguranças tirando à
força as pessoas do local, utilizando armas de choque e com a lata inflável da
Coca-Cola (empresa que esteve na parceria público-privada para revitalização do
lugar) queimada em uma das principais avenidas da cidade – tudo porque as
pessoas queriam permanecer próximas ao auditório no final do show,
confraternizando, esperando seus pares, pensando em como voltar pra casa...
Quinta feira, noite de
debate para os candidatos à prefeitura na maior corporação midiática do sul, a
RBS (filiada às organizações Globo). Diversos jovens encontravam-se no centro
da cidade, participando de um evento convocado pelas redes sociais que tinha
objetivo de promover a “defesa pública da alegria”. O evento, segundo
as informações constantes nas redes, pretendia juntar as pessoas em frente à
prefeitura para protestar contra as remoções da copa, utilização dos espaços
públicos por empresas privadas e também o fechamento de inúmeros bares na
Cidade Baixa (popular bairro boêmio da cidade). No mesmo local estava mais um
objeto inflável: o boneco símbolo da Copa do Mundo no Brasil, Tatu Bola. Devido
a sua grande importância para a sociedade (!!!!!), este encontrava-se
assegurado por diversas viaturas e policiais armados.
No momento em que os
manifestantes preparavam-se para realizar uma ciranda ao redor do boneco, a
polícia começou a interagir com pura brutalidade. Cassetetes, bombas de efeito moral, balas
de borracha e máquinas de choque foram utilizadas contra manifestantes que nada
tinham em mãos. Com a confusão
instaurada, o boneco da Copa foi derrubado e esvaziado.
Mais de 20 pessoas ficaram
feridas. Seis pessoas foram detidas. O principal assunto no dia seguinte? “O
vandalismo dos manifestantes com um “indefeso” boneco de tatu”. Até quando
iremos ver pessoas apanhando, policia agindo de forma intransigente e ainda
dizer que “eles mereceram, foram provocar”.
“Até
quando você vai levando? (Porrada! Porrada!!)
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando? (Porrada!
Porrada!!)
Até quando vai ser saco de pancada?” (Gabriel,
O Pensador)
Os: Nesta mesma quinta feira, uma funcionária da UFRGS foi estuprada
dentro do campus da universidade. E lá não havia nenhum policial. A prioridade
é “salvar” um boneco.
Maiores informações e vídeos:
domingo, 23 de janeiro de 2011
Tragédia na região serrana
Oi Povo!
Pois é... Sei que faz tempo, que prometi postar mais, mas as coisas nem sempre acontecem da maneira como gostaríamos. Muita coisa aconteceu nesse meio tempo e não conseguiria (e nem poderia devido à importância delas) falar sobre todas em só post. Juro que, aos poucos, vou colocando-as e dando a devida importância a cada uma. Para além disso, quero deixar aqui registrado que, de vez em quando, irei atualizar o blog com letras de músicas, poesias, vídeos ou outras coisas que tenho recebido, achado interessante mas ficado com preguiça de contextualizá-las (não se assustem! o blog não ficará uma bagunça... somente terá um pouco mais a cara de "o tudo numa coisa só" ;) ).
Pois bem... E o que me traz de volta aqui numa noite quente de verão porto alegrense? Passei o último fim de semana meio isolada com alguns amigos, tendo ótimos momentos e boas gargalhadas. Mas algo me perturbou durante todo esse tempo. Como alguns sabem tenho trabalhado todas as noites e, como meus pais transferiram a assinatura do jornal para a praia minhas principais fontes de notícias e ligações com o mundo estão praticamente rompidas (não! eu não tenho paciência de ler notícias pela internet - e juro me policiar mais para fazer isto). Devido a isso não acompanhei, durante toda a semana passada, as reportagens oriundas da região serrana do Rio (onde houve diversos deslizamentos e enchentes por causa das fortes chuvas deste mês). Por mais um ano este maravilhoso estado da região sudeste de nosso país é assolado por uma tragédia natural, perdendo as centenas os seus habitantes¹.
Sobre isto tenho algumas ponderações a fazer. A primeira e mais relevante para mim neste momento (e o que me leva a escrever este post) é a exploração da mídia em cima do drama das pessoas. Em algumas notícias abertas há pouco li que já passam de 750 mortos. Acredito que só este dado já é bastante chocante. Pessoas soterradas. Pessoas levadas pela lama. Pessoas que não conseguiram vencer a força das águas. Pessoas que sobreviveram após perder toda sua família. O Brasil mais uma vez fica estarrecido diante das imagens da televisão (eu enchi meus olhos de lágrimas diversas vezes durante o fim de semana). Mas isto não basta para as grandes empresas de comunicação. Elas querem mais.
Elas querem sugar até o último suspiro aquelas pessoas que já estão tão traumatizadas. Não consigo contar agora quantas foram as diferentes entrevistas que assisti ou ouvi este fim de semana com diferentes pessoas e diferentes histórias, mas todas com traços em comum: a perda, a dor e o desespero. Não entendo (e isto provavelmente deve-se ao meu parco entendimento sobre pessoas sem ideais) como os repórteres conseguem chegar a um hospital e fazer aquelas pessoas reviverem todos os momentos de desesperos dos quais acabaram de se salvar. É realmente necessária essa dor e este transtorno? Desculpem... Fico realmente indignada diante tanta falta de sensibilidade.
Outra questão que quero abordar é sobre a causa destas "tragédias naturais". Depois delas ocorrerem sempre ouvimos àqueles que dizem que as pessoas sabiam dos riscos que corriam, tinham suas casas em situações irregulares, etc etc etc. Ok! Mas será que já paramos pra pensar que este é o único lugar onde elas conseguiram montar um cantinho próprio? Que elas, infelizmente, não têm condições de ter uma casa em um bairro que não inunda quando chove? Sei que neste caso da região serrana pessoas com posses maiores também foram atingidas, mas estas não são, nem de longe, a maioria.
Ouvi, antes do início de toda esta tragédia, uma reportagem sobre os gastos que o governo tem com prevenção de catástrofes e depois com a reparação dos danos. Todos devem imaginar que o primeiro não chega nem perto do valor do segundo. Mas o que me deixou mais chocada foi a resposta dada quando perguntado sobre o porquê que estas obras (de prevenção) não eram feitas. A ilustre pessoa entrevistada, respondeu com todas as letras, que estas obras não geram visibilidade política. Não são como a reconstrução de uma cidade. Que é como tapar um bueiro. LÓGICO! Já que não teremos visibilidade com isso, vamos deixando as pessoas morrer. Daí já aproveitamos a "limpeza" feita na cidade que depois será reconstruída. É tanto descaso que às vezes, fico sem esperanças.
Enfim. Encerro este post demonstrando minha total admiração pelo ser humano que é capaz de mobilizar-se diante do desespero alheio e promover ajuda da maneira que lhe é possível! É esse o tipo de pessoa de olhar em volta e pensar que vale a pena lutar e que as coisas podem ainda melhorar!
¹ Para saber mais: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/chuvas-no-rj/noticia/2011/01/nove-dias-depois-da-chuva-na-regiao-serrana-mortes-passam-de-740.html
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